sábado, 1 de novembro de 2008

Momento histórico da terceira geração modernista brasileira & Tendências contemporâneas (1945–1978)

Considera-se 1945, ano da deposição de Getúlio Vargas, o início de um novo período político-social em nosso país. Trata-se de um era de “democratização”, que se estende até 1964, quando ocorre o Golpe Militar.





Nesses quase vinte anos, os fatos históricos que se sucedem fazem parte de nossa memória nacional mais recente: o fim do Estado Novo (1945), o afastamento temporário de Getúlio da vida política (1945–1950), seu retorno (1951–1954), a presidência de Juscelino Kubitschek (1956-1961), a fundação de Brasília, nova capital do país (1960), as presidências de Jânio Quadros (1961) e de João Goulart (1961–março de 1964).
Adotando modelos políticos populistas, o Brasil tenta encontrar os rumos de seu desenvolvimento. Apesar da grande abertura ao capital estrangeiro proporcionada pelo Plano de Metas do governo Juscelino, será apenas na fase seguinte, com a ditadura militar (1964-1978), que se consolidará o modelo econômico assentado no Estado, nas multinacionais e no capital nacional.
Em 1979, co a pose do presidente Figueiredo, é assinado o decreto de anistia aos presos políticos, implementa-se a reforma partidária e tem início o processo de redemocratização do país.
O Tema e a ideologia do desenvolvimento dão cores esquerdizantes ao nacionalismo, bandeira vinculada à direita nos anos 20.
Nesse contexto, renova-se o gosto pela arte regional e popular, cujo potencial revolucionário torna-se objeto de grande atenção. Em contrapartida, as camadas conservadoras reagem sistematicamente contra as manifestações políticas nacionais-populistas.
No cenário internacional do pós-guerra, a Guerra Fria e a ameaça atômica predominam a partir de 1945, dividindo o mundo em sistemas que mutuamente se hostilizam.
Nessa oscilação entre enfatizar o nacional e reprimi-lo, entre resgatar o passado e descobrir o futuro, entre a consideração eminentemente política da necessidade de testemunhar o momento político presente e uma aura quase mítica de entusiasmo generalizado pela mídia e pela máquina – dois fetiches ligados à explosão industrial dos anos 60 tanto na Europa quanto nos Estados Unidos -, nasce o que alguns chamam de “fim do Modernismo” e, outros, de “Neo-Modernismo”.
Trata-se da geração de 45, que passaremos a conhecer.

FATOS HISTÓRICO

 Fim do Estado Novo (1945).
 Retorno de Getúlio Vargas à presidência (1951-1954).
 Mandato de Juscelino Kubitschek (1956-1961).
 Fundação de Brasília, nova capital política do país (1960).
 Jânio Quadros na presidência (1961).
 João Goulart na presidência (1961-março de 1964).
 Ditadura Militar (1964-1978).
 Redemocratização (de 1979 até nossos dias).

1945-1963: período democrático.

 Predominância de modelos políticos populistas.
 O nacionalismo como bandeira esquerdizante.
 Nacional –desenvolvimento X reação de classes conservadoras.
 Interesse pela cultura popular X cosmopolitismo.

1964-1978: Ditadura militar.

 Fim das liberdades democráticas.
 Novo modelo econômico: o “milagre brasileiro” (o Estado, as multinacionais e o capital nacional).

1979: Anistia.


Características literárias da terceira geração modernista brasileira

Do ponto de vista literário, esta geração representa um retrocesso em relação às conquistas de 22: ela propõe uma volta ao passado, com a revalorização da rima, da métrica, do vocabulário erudito e das referências mitológicas.
A geração de 45 é, nesse sentido, passadista, acadêmica, inexpressiva em termos de grandes autores e grandes obras, mesmo abordando temas contemporâneos. Por outro lado, coube a ela introduzir, muito positivamente, uma nova cultura internacional nas letras brasileiras. Autores como Rainer Maria Rilke, Ezra Pound, T. S. Eliot, Fernando Pessoa, Paul Valéry, Frederico Garcia Lorca influenciaram-na significativamente.
Domingos Carvalho da silva Alphonsus de Guimarães Filho, Péricles Eugênio da silva Ramos e Ledo Ivo constituem alguns dos principais representantes da geração de 45.
Em contraposição a esta produção passadista, três grandes escritores se sobressaem João Guimarães Rosa e Clarice Lispector, na prosa, e João Cabral de Melo Neto, que chegou a pertencer à geração de 45, na poesia.
Além de praticarem a literatura como constante pesquisa de linguagem, como expressão artística caracterizada preocupação formal e estética, tais criadores têm em comum o senso do compromisso entre arte e realidade, o engajamento do escritor e de sua obra na vida social.
Assim, retomam a perspectiva nacionalista da primeira fase do Modernismo – a geração de 22 - e também a perspectiva universalista da segunda fase – a geração de 30.
Podem-se considerar os três autores uma síntese de ambas as gerações, já que ao experimentalismo da primeira acrescentam a maturidade artística da segunda, unindo, também, nacionalismo e universalismo.
A sutileza do elo entre a fala e o texto transfigurados das narrativas mitopoéticas de Guimarães Rosa, o diálogo com as fronteiras do indizível nos romances e contos introspectivos de Clarice Lispector e a precisão arquitetônica, substantiva, da poesia de João Cabral retoma e fecunda as experiências modernistas desenvolvidas no país.
Simultaneamente, podemos ver esses autores como alicerce de nossa produção literária contemporânea, seja na vertente mais ligada à exploração dos limites da palavra poética, exemplificada pela poesia concretista das décadas de 1950 e 1960, seja na busca de engajamento, Gullar, Thiago de Melo e muitos outros.
Também entre contistas e romancistas da atualidade – como Lígia Fagundes Telles, José Cândido de Carvalho, Fernando Sabino, Murilo Rubião, Dalton Trevisan, Cony, Autran Dourado, Dionélio Machado e João Ubaldo Ribeiro – verificamos ressonâncias dos escritores de 45, especialmente por meio de uma ficção intimista que se ocupa em escavar os conflitos do homem em sociedade, tendo como horizonte provocar uma contínua reflexão, em seus inúmeros matizes, sobre a vida moderna.
A esses novos criadores – não podemos deixar de lembrar – somam-se aqueles que os antecederam q que se tornaram vozes definitivas da literatura brasileira e universal. Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes, Oswald de Andrade e Graciliano Ramos constituem exemplos de menção imprescindível neste rápido balanço de nossa produção literária moderna e contemporânea.

Principais características da terceira geração modernista brasileira, a geração de 45

 Retrocesso em relação às conquistas de 22.
 Volta ao passado: revalorização da rima, da métrica, do vocabulário erudito e das referências mitológicas.
 Passadismo, academicismo.
 Introdução de uma nova cultura internacional nas letras brasileiras.
 Os grandes criadores de 45, que retomam e fecundam as experiências desenvolvidas no país
 Prosa João Guimarães Rosa e Clarice Lispector.
 Poesia: João Cabral de Melo Neto.
 Literatura: constante pesquisa da linguagem + senso do compromisso entre arte e realidade, engajamento.
 Síntese de ambas as gerações: experimentalismo + maturidade artística; nacionalismo + universalismo.
 Guimarães Rosa: narrativas mitopoéticas, que resgatam a sutileza do elo entre a fala e o texto literário.
 Clarice Lispector: romances e contos introspectivos, que dialogam com as fronteiras do indizível.
 João Cabral: poesia que associa compromisso social e precisão arquitetônica, substantiva.

Fonte: Livro Português Novas Palavras Literatura/Gramática/Redação
Autores: Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite, Severiano Antônio
Editora: FTD Págs. 294 - 297